Vintage still life with books, macarons, candle, and flowers on a cozy table.

A Ilusão do “Eu” — Uma Reflexão Zen sobre o Não-Ser

Quando paramos em silêncio e observamos a respiração, uma pergunta surge naturalmente: Quem é que respira?
A mente responde de imediato: “Eu.” Mas se olhares com atenção, esse “eu” escapa como nevoeiro ao sol da manhã.

No Budismo, este é o ensinamento do não-ser (anattā). Não significa que não existimos. Significa apenas que o “eu” que defendemos todos os dias não é sólido. O que chamamos eu é um conjunto de condições em constante mudança — o corpo moldado pela alimentação e herança familiar, a mente formada pela cultura e pela memória, as emoções geradas pelas experiências vividas.

Pensa num rio: está sempre em movimento, nunca é a mesma água, mas damos-lhe um único nome. Ou numa chama: a cada instante é nova, mas acreditamos que é a mesma. O eu funciona da mesma forma — é processo, não posse.

É quando nos agarramos a esse “eu” ilusório que nasce o sofrimento. Defendemo-lo como se fosse uma fortaleza, e nesse esforço criamos medo, raiva e solidão. Mas quando vemos através da ilusão, as paredes dessa fortaleza desmoronam-se. O que resta é espaço aberto — consciência, ligação, compaixão.

Uma Breve História Zen: O Monge e o Espelho

Um jovem monge perguntou ao mestre:
“Se os pensamentos e emoções aparecem e desaparecem, quem é o eu que os possui?”

O mestre levou-o a um lago tranquilo.
“Olha, ali está o teu rosto.”

O monge viu o reflexo na água.
“Sim, Mestre, sou eu.”

O mestre tocou a superfície com o bastão e o reflexo quebrou-se em ondas.
“E agora,” perguntou, “onde estás?”

O monge permaneceu em silêncio, observando a imagem voltar, mas nunca igual à anterior.

O mestre sorriu e disse:
“O espelho não tem eu, mas reflete todas as coisas. Assim também é a mente. Se te agarras ao reflexo, sofres. Se despertares para o espelho, és livre.”

🌸 Viver o Ensinamento

O não-ser não é uma teoria para acreditar. É algo para experimentar.
Senta-te em silêncio. Observa a respiração. Repara nos pensamentos que surgem e desaparecem, nas emoções que vêm e vão. Pergunta: Onde está o eu sólido que as possui?

Com o tempo, verás apenas mudança, movimento, impermanência. Essa “vacuidade” não é vazio — é plenitude. É o espaço onde brota naturalmente a compaixão. Sem um eu rígido para defender, o outro deixa de ser separado de ti. A dor dele é a tua dor, a alegria dele é a tua alegria.

Esta é a verdadeira liberdade de que fala o Zen. Não é fugir da vida, mas vivê-la plenamente — aqui, agora, no presente eterno.

Deixe o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Scroll to Top